segunda-feira, 2 de março de 2009

fica a carne


a história de hoje

- Por falar em gambozinos.
Quando vinha para cá, entrei na Bertrand (será que se pode dizer?) só para cheirar os livros, embora o cheiro dos livros de hoje seja mais plástico e enjoativo.
- Então, Restelo?
Fui dar uma espreitadela aos livros de bolso, pesando já o corte orçamental doméstico e era só mesmo para cheirar até porque o terra sonâmbula estava dobrado na ponta e era exemplar único.
- Os livros de antes é que eram! E então engatou-te algum livro de bolso?
- Peguei no terra sonâmbula do couto, e mesmo dobrado pensei são apenas 6 euros menos cinco cêntimos e sempre me ponho em Moçambique por algum tempo.
Sem ter de passar pelas vacinas e mosquitada.
- Boa!
- E depois
como não há um sem dois
vi-o.
Tolstoi.
Um clássico.
De bolso.
A morte de Ivan ilitch.
E comecei a lê-lo ao almoço entre a sopa de grelo e o cachorro em promoção.
O António insistiu para que o comprasse: "reparem no que tolstoi faz com as palavras e como nos retrata,
de corpo inteiro, no mais íntimo de nós mesmos"
e pensando em clássicos pensei em ti, nas benevolentes que seguem lentas, porque se amontoam corpos a cada esquina da Ucrânia e o cheiro é nauseabundo, mesmo daqui.
a morte
a vida
E nisto perdi-me porque não era esta a história.
Recomeço?
- Força.
Entrei na Bertrand (bolas, marca) e antes de chegar-me ao fundo,
ao estreito escaninho dos livros de bolso amassados,
estava ele
um livro assim com uma ratazana a roer-lhe o rosto.
"encontrei conforto na ideia ridícula de que tinha um Destino"
Firmin, de sam savage
Uma ratazana que se apaixona pelos livros.
Não comprei,
mas fiquei a pensar nela,
a sentir-me cada vez mais ratazana.

“Firmin é o 13º filho de uma ratazana alcoólica que só tinha 12 tetas. Nasceu, tal como os irmãos no sótão de um alfarrabista. Como era o mais fraco entre todos os irmãos nunca chegava às tetas da mãe. Assim se safou do alcoolismo e, para sobreviver, começou a comer livros, tornando-se num rato culto.”
- Parece a história do deus ex machina!

caganeira de segunda

- mas podia ser pior!
- o que se passa?
- nada de especial, uma redução salarial temporária, insónias e alguns chiliques nocturnos.
estou a precisar de exercício físico para equilibrar tensões.
e tu?
no teu novo regime?
- cá ando!
- tenho de arranjar uma forma de me frelançar.
podes atirar-te às traduções.
- porra!
nao sei.
a verdade é que não quero trabalhar.
- não trabalhes!
não precisas!
não sofras.
- estou farta de trabalhar para coisas que não me parecem contribuir para nada em concreto.
- só há esta vida!
- sim eu penso muito nisso.
sobretudo ultimamente, é engraçado ouvir-te dizê-lo (meu grilo)
- eu estou farta de trabalhar para a cromaria.
- esta vida e os melhores anos (passados os verdes)
- estou muito tentada a deixar lá uma bomba!
- ora bem.
trabalhava nisso.
numa nova forma de terrorismo, senão estiverem já todas esgotadas…
ou melhor numa contra corrente
tão contra tão contra
que nunca se encontra!
mas preciso de um principio
uma nova formula ou contra-correntemente falando...
sei lá
- preciso é passar das palavras aos actos!
- eu diria mais.
- raios! o que me prende a esta merda é o guito.
- passava aos cactos.
- não há nada mais humilhante.
- eis uma coisa que gostaria de fazer.
Plantar cactos.
- eu não quero querer guito.
enfim é segunda-feira, e sinto-me muito básica.
- e eu de caganeira.
ja sei como chamar-lhe
"caganeira de segunda-feira"